quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Aulas 1 - 5ºs anos (UME Santista)

Hoje, quarta-feira iniciamos com as crianças na UME (Unidade Municipal de Ensino) Colégio Santista. Vou falar um pouquinho com vocês sobre o trabalho que desenvolvo por lá e nossa realidade:
Oficialmente, trabalho com os 5ºs anos e a escola funciona em período Integral, em uma área de EXTREMA vulnerabilidade social aqui em Santos. A escola é de ensino infantil à 5º ano, logo minhas turmas são os mais velhos e por muitas vezes mais rebeldes, o que nunca me foi problema. Trabalho com 5 turmas: A, B, C e D, e dou de 3 a 4 aulas por semana em cada turma, aulas de 50 a 60 minutos. Explico isso, pois por lá o meu trabalho por muitas vezes não tem foco teatral, mas sim social. Utilizo o teatro como ferramenta para tentar de alguma maneira acrescentar e transmitir valores a essa turminha tão carente de tudo, e preciso dizer que por muitas vezes eles me surpreendem e acabam me levando muito além da questão social: se mostram atores interessados e realizamos espetáculos lindos por lá, ainda que não seja meu foco principal.

Hoje conheci as 4 turmas e a aula foi igual para todas, vou colocar pra vocês...


  • No início de cada aula eu me apresentei (99% já eram alunos da escola ano passado e me conheciam pelos corredores, sabiam meu nome e que minha aula é Teatro), coloquei algumas regras básicas de convivência sempre muito bem justificadas, acho que isso é o segredo pra disciplina seja na área da educação que for: não IMPOR, mas sim pedir e JUSTIFICAR. Por exemplo, se vou combinar que descer para o lanche é em ordem de tamanho, preciso justificar que não é pra separar os amigos que se adoram, mas sim, porque se eu deixar o João que é alto na frente do Pedro que é menor, eu durante a fila não conseguirei enxergar o Pedro e isso me fará parar diversas vezes quando eu olhar pra trás e não saber se ele está ali. Isso funciona muito bem, e em 7 anos de sala de aula eu sempre tive como qualidade conseguir manter com facilidade a organização e disciplina das turmas, usando essa estratégia. Bom, mas retornando à descrição da aula de hoje, fiz rapidamente alguns pedidos relacionados ao nosso convívio e após isso cada um, do seu lugar, me disse seu nome e respondeu algumas perguntas básicas minhas: Já fez teatro, gostou, não gostou, de que turma era ano passado, e ao final perguntando se eles querem falar ou perguntar alguma coisa. Esse bate papo informal pode parecer bobagem, porém É MUITO IMPORTANTE para que a gente já comece a identificar as dificuldades pessoais de cada um dos nossos alunos que são facilmente identificadas na sua maneira de falar, olhar durante o dialogo, volume de voz e capacidade de construir um papo coerente, além de começar a estabelecer uma relação de confiança conosco, ainda mais quando se trata de um publico como esse!
  • Terminado esse momento eu apresentei a eles uma cartolina que fiz com os dizerem "Em 2017 eu..." e falei um pouquinho com eles sobre sonhos, desejos. Sempre me uso como exemplo e expliquei que tenho muitos sonhos e coisas a realizar, e dou exemplos meus da maneira mais leve e próxima da realidade deles possível: algo que gostaria de comprar, de aprender, de ganhar, conhecer, etc...Para que eles entendam que sonhos podem ser qualquer coisa. Então pedi para que eles pensassem num sonho que eles queriam pra esse ano. Algo que até o fim do ano eles querem realizar, e não um sonho pra vida, pra quando for adulto. Enfim, pedi para que pensassem naquilo que eles mais desejam e entreguei Post-its para que cada um deles escrevessem ali seus desejos. Eu também participei fazendo o meu, e algo que acho importante: ELES NÃO PODIAM SE IDENTIFICAR NO PAPEL, isso faz total diferença com esse publico. Se eu obrigasse a por nome, eles não se abririam e não se sentiriam seguros. Se eu falasse que era opcional, quem não quisesse não se sentiria a vontade de não ter se identificado. Por isso, foi proibido colocar nome. As respostas foram as mais variadas: um iphone, uma chuteira, um colchão, saúde, se aproximar de Deus, pai sair da cadeia, jogar futebol, mais passeios com a escola, conhecer a Selena Gomes, viajar para algum lugar e até um papel com "Nada" eu recebi (e foi um dos que mais me preocupou...). Assim que eles me entregaram eu colei um a um na cartolina.
  • Então eu li em voz alta todos os post-its, mas antes eu explique que se alguém quisesse levantar a mão e falar "é meu" quando eu lesse o seu, que poderiam. Isso aconteceu muito pouco hoje, mas era preciso deixar que os que gostam de se expor, o façam de maneira livre. Essa atividade é muito bacana primeiro porque é a primeira "voz" que dou a eles, numa relação segura e confiável e que os faz olhar pra dentro e refletir sobre si mesmo, ainda que seja de maneira ainda tão superficial. Eles não estão acostumados com essa prática, que vem a ser mais adiante extremamente necessária para o Teatro e vem a ser importante nas suas formações como ser humano.
  • A cartolina foi colocada na parede da sala e eu expliquei que aqueles sonhos são os que vão nos nortear o ano todo, que toda vez que a gente pensar ou sentir algo ruim, devemos olhar pra eles e lembrar que para alcançar nossos objetivos temos que ser merecedores e que, a cada coisa bacana que a gente faz a gente caminha um passo em direção aos sonhos, e a cada coisa ruim, andamos um passo atrás. Ou seja, além de ser uma atividade que durante sua execução tem a sua reflexão, ela pode ser utilizada como ferramenta motivadora ao longo do ano inteiro com os alunos.
Tirei fotos dos cartazes e vou colocar para vocês, esqueci apenas de bater foto hoje de uma das turmas!





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